segunda-feira, 23 de março de 2009

O Zelador Da Casa Vazia

Esse de quem vos falo tem agora merecida fama, apesar de sequer ter conhecido o outro lado de onde sempre esteve. Bravo anônimo que dedicou todo o tempo que lhe foi conferido a zelar daquela casa vazia.

Alimentando guardiões e tecendo o manto da penumbra para profaná-los em silêncio. Acumulando nas extremidades poeira e massa enegrecida, observando cada movimento úmido das porções bem definidas.

Como um pilar abalado, uma farsa construída. Âncoras e escoras sustentando memórias parcialmente vitrificadas. Que não cominou prazos, nem teve pressa. E buscou respostas que, se não muito interessam, em nada alteram o conteúdo de uma página lida.

Houve marca de felicidade em cada azulejo que por hora o pertenceu. E como prova de fidelidade, aprisionou nas paredes seus fantasmas e melancolias.

SN150948

quinta-feira, 19 de março de 2009

Imperfeito

Contar-lhe-ei uma mentira. Dar-te-ei ilusão. Faço uso de linguagem esquecida por puro capricho, além de convicção. Se a alma é um labirinto, o corpo é redução. Sorte daqueles que possuem uma bússola no lugar do coração.

Sou assimétrico, incompleto. Cultuo o exagero e vivo em guerra pacífica com a emoção. Metáforas, hipérboles... Figuras espremidas no imenso vazio do que aqui não será mencionado por falta de palavra, conceito ou definição.

Boa lembrança, sinônimo de saudade. Sonho: artigo de prateleira. Quem sabe o que é a felicidade quando um sorriso não devora o rosto, rasgando os lábios em expressão verdadeira?

Esqueça toda a vaidade e eu te contemplo. Seja inteiramente superficial e eu te sublimo. Só não cometa o erro de achar que a verdade é sempre uma virtude. Palavras só têm valor acompanhadas de atitude. Não se surpreenda se eu disser que sempre estarei mentindo. Sou imperfeito, ou um tanto mais que isso.

Dead Gardens cel

A Porta

O que há por detrás daquela porta? Tantos já passaram por ali... Cheios de medo, angústia, esperança; Fartos de alegria, perseverança. Gente com fé no minuto seguinte.

O que há por dentro daquela porta? Vestígios de uma trajetória inerte, mutilada e tingida. Simetria artesanal, trabalhada em prol de vidas vazias.

Dói-me pensar que, fora do contexto, a porta é o que menos importa.

SN151424

Insonidade Primeira

Escrevo enquanto a honra inversa gira fazendo ressecar o meu pensamento. Há um controle de velocidade.

Obstáculos sortidos que limitam ou sufocam a reta visão revelam caminhos à esquerda, à direita; Pontos de luz misteriosos reduzidos a um único tom de vermelho para recusar o meu desassossego.

Números pares se foram favoritos em tempos de sombra pública das formas repetidas. Há uma ordem no que vejo.

O curvar de minhas pernas mostra enfim e agora o quanto posso mergulhar em fundo abismo ou voar em grande altura; Ouço o choro de lá fora enquanto cresço.

 

SN151429